Libras<\/strong><\/p>\nNa avalia\u00e7\u00e3o da professora, que ministra aulas de Libras para alunos de fonoaudiologia e medicina e j\u00e1 formou, em tr\u00eas anos, 400 alunos, o curso n\u00e3o resolve o problema, isoladamente. “N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 o curso de Libras que \u00e9 importante. Tamb\u00e9m tem que saber como explicar para o surdo”, ressalta.<\/p>\n
De acordo com a m\u00e9dica veterin\u00e1ria Alyne Pac\u00edfico, o vocabul\u00e1rio de Libras na \u00e1rea de sa\u00fade ainda \u00e9 muito recente e os profissionais devem sempre coloc\u00e1-lo em pr\u00e1tica para n\u00e3o perder o aprendizado. “N\u00e3o basta o n\u00edvel b\u00e1sico, porque \u00e9 um idioma”, afirma, destacando que, como qualquer idioma, a Libras est\u00e1 sujeita\u00a0a mudan\u00e7as constantes.<\/p>\n
Tamb\u00e9m professora de Libras, Alyne fez um levantamento com idosos surdos sobre a maior dificuldade enfrentada na \u00e1rea de comunica\u00e7\u00e3o. O resultado, obtido em 2016 quando ela cursava o mestrado em gerontologia, foi un\u00e2nime: o atendimento na \u00e1rea de sa\u00fade.<\/p>\n
“Fiz uma entrevista perguntando quais eram os principais problemas com rela\u00e7\u00e3o a sa\u00fade, educa\u00e7\u00e3o e inclus\u00e3o social e 100% das pessoas consultadas disseram que o maior problema era na sa\u00fade, porque na educa\u00e7\u00e3o t\u00eam int\u00e9rpretes, auxiliares, mas na sa\u00fade dependiam 100% de uma pessoa int\u00e9rprete ou de algu\u00e9m da fam\u00edlia”, comenta.<\/p>\n
Alyne acrescenta que, para ela, o Sistema \u00danico de Sa\u00fade “est\u00e1 \u00e0 frente” quanto \u00e0 qualidade do servi\u00e7o oferecido a esse p\u00fablico. “Os \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos est\u00e3o buscando a capacita\u00e7\u00e3o (em Libras)”, destaca.<\/p>\n
Pol\u00edticas p\u00fablicas<\/strong><\/p>\nA fonoaudi\u00f3loga Beatriz de Castro, da Divis\u00e3o de Educa\u00e7\u00e3o e Reabilita\u00e7\u00e3o dos Dist\u00farbios da Comunica\u00e7\u00e3o (Derdic), menciona que 30% das crian\u00e7as surdas ou com defici\u00eancia auditiva t\u00eam outras demandas de sa\u00fade, al\u00e9m da relacionada \u00e0 audi\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m disso, 98% dos surdos t\u00eam pais ouvintes, o que, geralmente, faz com que n\u00e3o tenham contato com pessoas fluentes em Libras.<\/p>\n
O contexto, avalia a fonoaudi\u00f3loga, requer uma pol\u00edtica p\u00fablica “m\u00faltipla”. “At\u00e9 que ponto a gente consegue que eles fiquem fluentes t\u00e3o r\u00e1pido quanto precisam, se nunca conviveram na comunidade? At\u00e9 que ponto tenho comunidades dispon\u00edveis, nesse Brasil enorme, que tenham interlocutores que v\u00e3o fazer Libras? Ent\u00e3o, \u00e9 dif\u00edcil de um jeito ou\u00a0do outro. Portanto, estrat\u00e9gias inclusivas s\u00e3o uma necessidade em pol\u00edticas p\u00fablicas que atendam a essa diversidade”, afirma.<\/p>\n
Com vasta viv\u00eancia ao lado de surtos, Beatriz afirma que essa popula\u00e7\u00e3o \u00e9 \u201csubmestimada intelectualmente”. “A pessoa, porque se trata de um surdo, come\u00e7a a falar devagar e fica com pena. Ele \u00e9 subestimado intelectualmente, porque a comunica\u00e7\u00e3o \u00e9 um valor muito importante para o ser humano. Quando tem qualquer desvio de comunica\u00e7\u00e3o, imediatamente a pessoa \u00e9 subestimada, do ponto de vista cognitivo.\u201d<\/p>\n
Viola\u00e7\u00e3o de direitos<\/strong><\/p>\nCom frequ\u00eancia, afirma Alyne Pac\u00edfico, as pessoas acometidas por surdez ou defici\u00eancia auditiva acabam sendo privadas de informa\u00e7\u00f5es fundamentais a respeito do seu estado de sa\u00fade. Tamb\u00e9m \u00e9 comum que sejam for\u00e7adas a concordar com a administra\u00e7\u00e3o de medicamentos, sem que saibam exatamente qual subst\u00e2ncia est\u00e1 sendo prescrita ou at\u00e9 mesmo injetada em seus corpos.<\/p>\n
Em muitas ocasi\u00f5es, n\u00e3o conseguem\u00a0ter\u00a0a oportunidade de expressar os sintomas f\u00edsicos que sentem, condi\u00e7\u00e3o que, frisa Alyne, os torna “ref\u00e9ns”. O debate, portanto, permeia o campo da \u00e9tica.<\/p>\n
Quando se trata de sa\u00fade mental, a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 id\u00eantica. De acordo com ela, muitas pessoas com surdez ou defici\u00eancia auditiva procuram um psic\u00f3logo depois de desenvolverem depress\u00e3o causada pelo isolamento social. N\u00e3o raro, h\u00e1 falta de comunica\u00e7\u00e3o dentro da pr\u00f3pria casa em que vivem. “Hoje\u00a0em dia, se tivermos cinco psic\u00f3logos formados em Libras, em Bras\u00edlia, \u00e9 muito. E, se acharmos um, ele ainda cobra um absurdo pela consulta, porque \u00e9 um profissional muito requisitado. \u00c0s vezes, tamb\u00e9m tem a quest\u00e3o do sigilo. Entra um int\u00e9rprete e o surdo n\u00e3o quer abrir o caso dele com algu\u00e9m que chegou ali.”<\/p>\n
Um caso que ilustra bem as implica\u00e7\u00f5es da falta de preparo no atendimento de sa\u00fade \u00e9 relatado pela professora Sylvia Grespan. “J\u00e1 tive experi\u00eancias com surdo psicopata [com transtorno de personalidade dissocial psicop\u00e1tica], que agredia e tentou se matar. A int\u00e9rprete n\u00e3o conseguia interpretar, ela come\u00e7ou a chorar, come\u00e7ou a ficar angustiada naquele atendimento, porque ela n\u00e3o estava acostumada.”<\/p>\n
Telemedicina e aplicativos<\/strong><\/p>\nQuando o tema \u00e9 tecnologia em prol das pessoas surdas ou com defici\u00eancia auditiva, as opini\u00f5es se dividem. Ao contr\u00e1rio de Alyne, Sylvia afirma que os aplicativos de celular e as v\u00eddeo-chamadas n\u00e3o propiciam um atendimento apropriado. A pedagoga argumenta que esse modelo traz consigo um \u00f4nus, que \u00e9 o pagamento por um servi\u00e7o de internet que permita que as consultas por v\u00eddeo e os aplicativos rodem bem.<\/p>\n
Sylvia lista algumas medidas que considera fundamentais: a oferta de Libras como disciplina obrigat\u00f3ria nos cursos da \u00e1rea de sa\u00fade, com\u00a0uma carga hor\u00e1ria extensa, “e n\u00e3o somente de 40 horas”; a contrata\u00e7\u00e3o de int\u00e9rpretes em hospitais; e o lan\u00e7amento de todas as p\u00e1ginas online do SUS em Libras, permitindo que o conte\u00fado chegue a todos.<\/p>\n
A professora defende ainda que a Ag\u00eancia Nacional de Telecomunica\u00e7\u00f5es (Anatel) oferte pacotes de internet para pessoas surdas ou com defici\u00eancia auditiva com pre\u00e7os mais acess\u00edveis.<\/p>\n
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