O padre Julio Lancellotti dará, neste domingo (10), à s 10h, uma benção especial à famÃlia de Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto na última terça-feira (5) durante um confronto policial no Morro São Bento. A celebração será na Capela da Universidade São Judas, no bairro da Mooca, em São Paulo, com transmissão ao vivo por diversos canais de mÃdia.
A missa, que marca o 32º Domingo do Tempo Comum, contará com a presença da mãe e dos irmãos de Ryan.  Ativistas de direitos humanos também estarão presentes em apoio à famÃlia. Eles denunciam a atuação da PolÃcia Militar durante o velório do menino na última quinta-feira (7) impedido a realização de um cortejo fúnebre no morro e exercido uma presença ostensiva em frente ao velório, o que resultou em tensões com familiares, parlamentares e o Ouvidor da PolÃcia, Professor Claudio Silva.
No momento em que o ouvidor falava à imprensa, policiais da Força Tática que estavam na porta do cemitério iniciaram uma abordagem de um rapaz. O ouvidor, acompanhado de jornalistas e fotógrafos, se aproximou dos policiais e começou a denunciar que os agentes não estavam usando as câmeras corporais.
“Vocês matam uma pessoa de 4 anos de idade. Aà fica circulando na porta do cemitério, incidindo no meio do cortejo. Não queria deixar o cortejo sair, para na porta do cemitérioâ€, disse Silva aos policiais que faziam a abordagem. Estavam presentes também as deputadas estaduais Paula Nunes e Ediane Maria; a vereadora de Santos Débora Camilo; além de Débora Maria dos Santos, coordenadora do Movimento Mães de Maio.
Ao telefone com o comandante geral da PolÃcia Militar, coronel Cassio Araújo de Freitas, o ouvidor relatou, durante a ocorrência, que os policiais faziam uma abordagem abusiva e que não utilizavam as câmeras corporais naquele momento. “Abordou o rapaz, deu um tapa na cabeça do rapaz, agrediu o rapaz, agora está dizendo que vai apreender a moto do rapaz.â€
Ryan da Silva Andrade Santos estava brincando com outras crianças na calçada em frente à casa de uma prima, quando foi atingido por um disparo. Segundo o próprio porta-voz da PolÃcia Militar (PM) “provavelmente [o disparo] partiu da arma de um policialâ€. O pai do menino, Leonel Andrade Santos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, realizada no inÃcio deste ano.
“Aqui no estado de São Paulo virou polÃtica governamental colocar polÃcia em velório de gente que morre pelas mãos da polÃcia, intimidar as pessoas e fazer tudo que vocês acompanharam. Vocês acompanharam o cortejo, viram o comportamento da polÃcia, tinha viatura do próprio batalhão aqui no cemitérioâ€, disse o ouvidor, presente no enterro do menino, à imprensa no local.
“É vergonhoso, é o cúmulo da falta de respeito aos direitos fundamentais das pessoas. Nesse estado aqui não vai poder mais ter ato fúnebre? Ninguém tem mais direito de velar e se despedir dos seus entes queridos? Quem não ficar consternado com a morte de uma criança de 4 anos nessas condições que foi aqui, me desculpa, não é genteâ€, acrescentou.
Os policiais atingiram ainda dois menores de idade na mesma operação de terça-feira. Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17 anos, morreu no local e o outro adolescente, de 15 anos, foi socorrido, passou por cirurgia e não corre risco de morte.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que irá analisar as denúncias e que o policiamento preventivo e ostensivo foi reforçado na região desde a última terça-feira.
Campanha estadual pela liberdade de ritos religiosos
Após a celebração, representantes de direitos humanos e lideranças de movimentos inter-religiosos farão uma coletiva de imprensa para anunciar uma campanha estadual pela liberdade de ritos religiosos, a ser lançada em várias cidades do estado. A campanha, que se iniciará com missas de 7º dia em memória de Ryan Santos, busca defender a inviolabilidade dos ritos religiosos, especialmente os fúnebres, que têm sido alvo de desrespeito em regiões periféricas do estado de São Paulo.
A cerimônia do velório, considerada sagrada em muitas culturas e religiões, será o foco da campanha. Com raÃzes na Idade Média, o velório é uma ocasião de expressão de amor e de luto, onde familiares podem prestar sua última homenagem ao ente querido em um espaço inviolável. A iniciativa tem como objetivo preservar esse direito e combater práticas que violam o momento de despedida.
Para acompanhar a missa acesse um desses canais