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Santos / Polícia

Cristiane Machado, uma verdadeira GIRL POWER!

Além de uma atriz super talentosa, Cristiane Machado também protagonizou uma história da vida real que infelizmente ainda acontece nos dias atuais. Ela foi vítima de violência doméstica e é uma grande ativista na nesta causa. Não deixe de conferir a entrevista que fizemos com ela sobre a sua carreira e sobre como criou coragem em denunciar o seu agressor. A imagem do seu rosto roda os principais museus do mundo e, inclusive, já passou por Nova Iorque, Atlanta, Tel Aviv, por conta do retrato feito pelo artista plástico Vik Muniz para a abertura da novela Passione (Rede Globo – 2011). Como foi este processo? Nunca pensei que poderia virar a musa inspiradora do Vik. Ele só tinha esculpido o rosto de uma atriz, que foi a Elizabeth Taylor. Ser a segunda nessa linha de trabalho foi uma honra para mim. Ele projetou uma foto do meu rosto em tamanho gigante no chão e foi montando com sucatas e objetos. Foi um trabalho muito interessante e bem detalhista. Ser uma obra de arte e ter meu rosto eternizado por ele foi uma honra e uma experiência inesquecível e única. Você foi convidada pelo diretor americano Josh Taft para viver Maria, no longa com título provisório de “Fear”. As filmagens aconteceram em Los Angeles. Como foi este processo? Tem alguma previsão para o filme ir para as telonas gringas? Eu trabalhei com Josh em uma campanha mundial da Coca Cola, que filmamos em Grumari, no Rio de Janeiro. Na época, quando finalizamos o trabalho, ele me deu o cartão com seus contatos e disse que começaria em breve a trabalhar em um roteiro que teria uma personagem que era meu perfil: uma brasileira sensual, com um lado brejeiro, que precisava passar um lado misterioso. Perguntou se eu falava inglês e logo depois veio o convite oficial. Fui com meu agente a Los Angeles, nos Estados Unidos, conversar pessoalmente e foi incrível. Antes de me casar, filmei com profissionais de Hollywood foi um sonho realizado. Filmei antes de me casar. E como foi a experiência em participar do longa argentino “República das Canetas Perdidas”?   Era minha primeira experiência com cinema de outro país. Já tinha trabalhado com a diretora argentina Rosário Boyer, aqui no Brasil, mas em Buenos Aires é totalmente diferente. Eles têm um cinema que dialoga com a realidade. É outra linguagem. Fiquei maravilhada e com frio na barriga de dar mais esse passo. As coisas foram acontecendo naturalmente.
Cristiane Machado, retratada por Vik Muniz para a abertura da novela Passione – Rede Globo (Crédito: Vik Muniz) Já atuastes em várias novelas. Qual foi a que mais lhe marcou?  Nossa! Tem tantas especiais. Mas acho que a primeira novela a gente nunca esquece. A certeza de um sonho concretizado. E melhor, minha estreia foi interpretando Maria Helena em uma novela das 21h, “Duas Caras”, do Aguinaldo Silva, que admiro tanto. Tive o prazer em trabalhar com atores que sempre admirei, como Susana Vieira, minha madrinha, José Wilker, Paulo Goulart, e tantos outros profissionais fantásticos. Foi Inesquecível. Infelizmente, você foi vítima de violência doméstica praticada pelo seu ex-marido. Temeu perder a sua vida, a dos seus pais com medo de que as pessoas não acreditassem no que você estava passando. Instalou uma câmera no seu quarto e as imagens foram exibidas no Fantástico, da TV Globo, em novembro de 2018. De quando você começou a sofrer estes ataques até quando tomou uma atitude, foi em quanto tempo? Como surgiu a ideia em filmar estas agressões? Por medo!  Meu agressor é uma pessoa com muito dinheiro, influência. As pessoas não acreditariam em mim se eu apenas contasse o que acontecia dentro do lar! O agressor tem um comportamento dentro de casa e se comporta de forma diferente perante a sociedade. São comportamentos diferentes. Tenho medo de morrer hoje e luto com isso todos os dias. Foram muitas ameaças! Ser enforcada é algo que não sai da minha cabeça! Só pensava em sair viva! Passei longos meses muito coagida, monitorada por empregados e pessoas. Uma pessoa com dinheiro manda fazer. O manejo é fácil. Por isso, falo a importância de saber com que tipo de perfil de agressor está lidando. Na verdade, é essencial. A conduta é diferente. Ele me dizia, comprovado por áudios, que se eu o entregasse a polícia, ele matava meus pais. Papai é deficiente visual e mamãe físico. Foi uma luta, precisei me encher de coragem e seguir em frente. O agressor ficou preso 7 meses em Bangu 8, depois cumpriu prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. a justiça o condenou por lesão corporal e cárcere privado, a três anos de prisão em regime semiaberto. Você é uma das primeiras mulheres autorizadas pela Justiça do Rio de Janeiro a usar um dispositivo conhecido como “botão do pânico”, no qual avisa sobre a aproximação do acusado de violência doméstica. O aparelho funciona como um pager, recebe sinais da tornozeleira do acusado. A tecnologia é fantástica, de uma precisão absurda. É um GPS e gera um relatório que diz quem chegou primeiro, quanto tempo o agressor permaneceu no lugar perto da vítima, se arrancou a tornozeleira, além do pager tocar para mim e a tornozeleira para o meu agressor quando estamos próximos e ele precisa sair. Quebra de medida é crime e me sinto nessa missão de reportar  ao Ministério Público todas as coisas que funcionam ou não. Tenho uma missão e acho que podemos fazer a diferença. Em algum momento, o agressor já tentou chegar perto de você, mesmo com este dispositivo? Você se sente mais segura depois da implantação do mesmo? Esse botão pânico é muito bom para me alertar através do bip, vibração e também o contato da SEAP, que o meu agressor, condenado pela justiça, está próximo e sou eu que tenho que fazer contato com a polícia através do 190 e consequentemente, com a patrulha Maria da Penha para tomarem medidas. Na prática, o botão quando estiver funcionando diretamente na polícia será maravilhoso. Esse dispositivo que fica interligado a tornozeleira dele gera um relatório, que avisa se agressor arrancou indevidamente a tornozeleira, o meu trajeto e do agressor, quem chegou primeiro, quanto tempo depois do agressor ao ser avisado se retirou do recinto… Isso protege minha vida e também do terrorismo psicológico que agressores fazem com vítimas após a denúncia. Eu já avisei as autoridades sobre os alarmes e as supostas quebras comprovadas em relatório e aguardo medidas. Diante do que viveu, você acabou virando ativista sobre a causa da violência contra a mulher. Como funciona este trabalho? As mulheres acabaram se encorajando mais após minha denúncia. É um caminho muito difícil e tortuoso. Muitas não sabem de leis, seus direitos e por onde começar. Faço esse trabalho voluntário de explicar como devem seguir em frente e explicar quais autoridades, polícia, IML, devem procurar. O programa patrulha Maria da Penha faz esse trabalho brilhantemente. Acompanha a vítima do início, a escutando até as decisões importantes. Eu estou escrevendo um livro sobre a minha peregrinação até a pós-denúncia. Tudo que enfrentei, questionei, inclusive a violência na internet que sofro do meu agressor, o terrorismo psicológico. Fui convidada pelo governo do Uruguai para conhecer o monitoramento desse aparelho que existe há seis anos lá e estou trazendo todas as informações para aperfeiçoarmos mais ainda esse avanço. Participo de diversos projetos sociais voluntariamente sobre violência e estou rodando o Brasil e o mundo com palestras contando minha história de encorajamento. A violência atinge as mulheres de todas as idades e classes? Qual é este cenário atual no Brasil? Brasil está no ranking do quinto lugar de feminicídio. Muito grave. Precisamos de ações de educação, prevenção e principalmente, leis severas. E quanto mais dinheiro, mais brechas políticas, o agressor encontra. E principalmente, mais meios ele se utiliza para revitimizar a vítima em uma forma de vingança e terrorismo psicológico, para que ela tenha medo de falar e morrer. Por isso, é essencial a rede de apoio e principalmente, esse trabalho incrível de proteção da Patrulha Maria da Penha, que tenho orgulho. Mas a luta é de todos nós, homens e mulheres, juntos.  Outro problema que encontrei foi a fiscalização dos serviços e a agilidade de chegar ao poder judiciário. Por isso, temos que ajudar a vítima a conhecer todas as etapas, rapidamente, para que assim possa estar protegida e seguirem frente. Quais são as dicas que você dá para mulheres que estejam passando por este problema? Denunciem. O caminho é longo, difícil e traumático. Vivo hoje represálias dele. Mas precisamos ter coragem e denunciar! O silêncio mata.