A PoliclÃnica São Jorge/Caneleira será a primeira de Santos a contar com uma horta de plantas de pequeno porte para uso medicinal. Os 12 canteiros, localizados no fundo do terreno onde se encontra a unidade de saúde, estão em obras e devem ser inaugurados no último domingo de agosto, em comemoração ao aniversário da Zona Noroeste.
A horta será utilizada como atividade terapêutica, em especial pelos participantes dos programas Hiperdia e Movimente-se com a Música e Dança, que serão habilitados para realizar o plantio, fazer a compostagem e também levar as plantas para casa, utilizando-as em chás ou na culinária, por exemplo. A criação da horta foi uma sugestão dos idosos que participam do Movimente-se (saiba mais abaixo).
A ideia é iniciar o plantio com grupos reduzidos, resguardando o distanciamento entre as pessoas e mantendo todas as ações de prevenção ao novo coronavÃrus.
Estrutura
Dos 12 canteiros, um será destinado para compostagem e minhocário e outro para a replicação de mudas de plantas de uso medicinal. Nos dez restantes, haverá o cultivo das plantas (quatro serão acessÃveis para cadeirantes e crianças).
Um sistema automatizado de irrigação também está previsto: duas vezes por dia, a horta será irrigada sem a necessidade de intervenção humana. Folhas também serão distribuÃdas no solo para reduzir a velocidade da evaporação e mantê-lo úmido por mais tempo. No verão, está prevista ainda a instalação de tela para horta devido ao sol forte que atinge o local.
Conceito
A atividade está relacionada ao conceito de Farmácia Viva, instituÃdo pelo Ministério da Saúde em 2010 e que faz parte do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS). Pelo Farmácia Viva, a população cultiva e prepara o fitoterápico a partir de conhecimento transmitido com base cientÃfica.
“Temos usuários que ficaram emocionalmente abalados com a interrupção de nossas atividades em grupo e o isolamento em casa. Retomaremos aos poucos essa integração na unidade, de forma que os munÃcipes também levem o conhecimento adquirido e as mudas aqui cultivadas para as suas famÃlias e vizinhos. Nosso objetivo é que não nos procurem apenas quando estão doentes ou necessitando de medicamento. Queremos que eles se sintam parte da policlÃnica”, afirma Maria Aparecida Neves de Jesus Oliveira Santos, chefe da unidade.
A horta está sendo erguida pela Construtora Aliança, vencedora da ata de registro de preços para intervenções em equipamentos da Secretaria de Saúde. A obra é financiada por uma emenda parlamentar do vereador Rui de Rosis, no valor de R$ 40.001,06. A Subprefeitura da Zona Noroeste acompanha e fiscaliza o andamento da construção. A iniciativa conta com o apoio do Conselho Municipal de Saúde.
Para dar suporte técnico e cientÃfico, a PoliclÃnica conta com o apoio do agrônomo Ricardo Martello e da naturóloga Cristiane Sierro. Eles auxiliam na escolha das espécies a serem cultivadas, bem como nas formas de manejo da terra mais eficientes para o sucesso do plantio.
Plantas medicinais serão cultivadas
Dentre as espécies que serão plantadas, estão boldo baiano (Vernonia condensata), capim cidreira (Cymbopogon citratus), melissa (Melissa officinalis), hortelã (Mentha spicata) orégano (Origanum vulgare), manjericão (Ocimum basilicum), alecrim (Salvia rosmarinus), tomilho (Thymus vulgaris) e bálsamo (Sedum dendroideum). Embora algumas destas plantas sejam lembradas mais por suas caracterÃsticas aromáticas, todas têm propriedades medicinais.
Os usuários da policlÃnica passarão por oficinas, que, além do plantio, ensinarão as formas corretas de consumo e armazenamento dessas plantas para a melhor absorção de seus nutrientes. Também serão alertados para espécies que não são indicadas para consumo como o falso boldo, planta bastante disseminada, com odor caracterÃstico, mas que contém uma substância tóxica chamada foscolina, que provoca irritação gástrica.
“A ideia é empoderar a comunidade, de forma que ela passe a ter uma alimentação melhor por meio do uso das plantas medicinais. Ao utilizar um azeite aromatizado na sua verdura, por exemplo, a pessoa potencializa os benefÃcios da refeição. Queremos trazer o conhecimento popular para a policlÃnica, com suporte cientÃfico, e reconectar a população com a natureza”, afirma Ricardo.
Para exemplificar, ele lembra a história de uma senhora que fazia chá de capim-cidreira e dizia que, para dar certo, era necessário tampá-lo, e depois tomá-lo junto com pão, passando o miolo na tampa. Este hábito tem respaldo cientÃfico: o óleo essencial da planta fica condensado na tampa, concentrando o princÃpio ativo medicinal, conhecido pelos benefÃcios ao sistema gastrointestinal.
Ideia partiu de participantes do Movimente-se com a Música e Dança
A sugestão da horta como atividade terapêutica partiu, ainda no ano passado, dos idosos do Grupo Movimente-se com a Música e Dança que frequentam a unidade. Eles mencionaram essa vontade às agentes comunitárias de saúde Cristina Helena Santiago da Costa e Cláudia dos Santos Fernandes, que contaram com o apoio da chefia da unidade e da Secretaria de Saúde. Ambas realizaram uma imersão no Jardim Botânico Chico Mendes para conhecimento inicial sobre o cultivo em horta.
A equipe da unidade entrou em contato com o agrônomo Ricardo. Além disso, passou a contar com a ajuda especial de dois de seus usuários: Luiz Carlos Xavier e Ana Cristina Souza Gabriel. Com o apoio da equipe do Jardim Botânico, Luiz transportou terra e mudas de plantas medicinais para um pequeno espaço na lateral da policlÃnica.
Ana Cristina, esposa de Luiz, foi a responsável por desenhar todo o muro localizado no entorno dessa primeira plantação, que foi pintado por Luiz e pelas agentes comunitárias. Deficiente auditiva, ela se diz grata por essa oportunidade. “Me senti integrada, incluÃda pela policlÃnica ao fazer os desenhos. Transmiti os meus sentimentos nos murais”.
Paralelamente, o projeto de uma horta maior foi se desenvolvendo na unidade, concretizando-se após o recebimento da emenda parlamentar. Para a alegria de Luiz, que se emociona ao lembrar de todo o esforço inicial. “Eu via o espaço disponÃvel na policlÃnica para uma horta e pensava que não tÃnhamos no nosso bairro um local como esse e muita gente não tem esse espaço em casa. Eu sempre gostei de mexer com a terra. É uma terapia. Sinto que, com o tempo, as pessoas perderam o hábito das avós e das mães de fazer um chá com as plantas cultivadas em casa”, comenta Luiz.