Da Redação
Em tempos de pandemia, não é apenas o corpo que sofre, mas a mente também padece diante das mazelas provocadas pelo novo coronavÃrus, como a perda de familiares, amigos, das notÃcias ruins e da crise econômica vivenciada no Brasil. Pensando em amenizar esse sofrimento e auxiliar as pessoas nesse momento de retomada gradual das atividades, Praia Grande tem intensificado os esforços para promover a saúde mental de sua população.
Uma das ferramentas que estão sendo desenvolvidas pela Secretaria de Saúde Pública do MunicÃpio (Sesap) é a implantação da terapia comunitária integrativa nas Unidades de Saúde da FamÃlia (Usafas). Por meio de profissionais da rede capacitados especificamente para este fim, serão promovidas periodicamente rodas de conversa para acolher e escutar as pessoas.
Inicialmente, um projeto-piloto será implementado brevemente em 10 Usafas que não possuem acompanhamento de terapeuta, para depois ser expandido a toda a rede. Está em estudo ainda a aplicação desse método junto aos funcionários das unidades, que também foram impactados pela doença e suas consequências.
Nesta segunda-feira (25), em reunião com os diretores das Usafas envolvidas no projeto-piloto, terapeutas comunitários e técnicos da Sesap, o secretário da pasta, Cleber Suckow Nogueira, exaltou a estratégia de acolher o munÃcipe em um contexto pandêmico que gerou problemas não apenas fÃsicos, mas também emocionais e psicológicos. “Nós temos uma rede de saúde invejável, com profissionais extremamente capacitados. Então, precisamos aproveitar tudo isso ao máximo, inclusive com esses profissionais que foram capacitados para a terapia comunitária, que acredito, vai auxiliar bastante o nosso trabalho junto à comunidadeâ€, afirmou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as consequências da pandemia têm imposto na população muita pressão psicológica e estresse, podendo gerar depressão e pensamento suicida, além de potencializar transtornos existentes antes da pandemia. Nesse sentido, a terapia comunitária integrativa, criada em 1986 pelo psiquiatra, teólogo e antropólogo Adalberto Barreto, pode auxiliar as pessoas, dando apoio e afeto, além de criar espaços de compartilhamento de sentimentos e desenvolver maneiras de enfrentar os problemas.
A terapeuta comunitária Maria del Pilar Ferrer Câmara, responsável pela formação dos servidores, participou do encontro e reforçou a importância do envolvimento de funcionários e das chefias nas rodas de conversa. Ela também destacou a importância de se acolher a comunidade nesse perÃodo tão difÃcil. “Todos nós enquanto sociedade estivemos reclusos em nossas casas, vivemos um cotidiano que não foi fácil, que deixou todos ansiosos. E quando a pessoa não consegue expressar o sofrimento que está sentindo, ela adoece. Então, a terapia comunitária funciona como uma prevenção, como um cuidado que oferecemos à s famÃlias. Um cuidado da almaâ€, explicou.
Na Praia Grande são 14 terapeutas comunitários que participarão do projeto-piloto inicialmente com as seguintes Usafas: Caiçara, Forte, Guilhermina, Melvi, Mirim I, Ocian, Real, Solemar, Tupi, Tupiry. Eles conduzirão pelo menos cinco rodas de conversa, uma por semana, com o apoio de facilitadores das Usafas para fazer o acolhimento junto à comunidade.
“A terapia comunitária é um espaço de partilha, onde a gente vai partilhar as nossas inquietações, dúvidas, mazelas e também as nossas conquistas. Então, na roda a pessoa libera suas angústias, pois através da fala ela se reconhece, se dá conta do que ocorre na vida dela. Tanto é que o bordão dessa terapia†comentou a diretora do CAPSII Boqueirão, enfermeira e terapeuta comunitária Hilda Maria Ferreira Jaguary Dias.
Nas rodas de conversa o diálogo é aberto e voltado para as preocupações do cotidiano da pessoa e para a busca de soluções com a ajuda de exemplos de superação compartilhados por outros participantes. “Tem um momento da roda em que uma pessoa dá um exemplo e, através da fala do outro, de como ele fez para superar uma situação parecida, o indivÃduo que está passando por um problema semelhante se identifica e percebe que muitas vezes não acontece só com ele. E através do exemplo do outro conseguimos encontrar um caminhoâ€, disse a enfermeira e terapeuta comunitária.
Após a primeira etapa de cinco rodas na Usafa, os casos serão analisados pelas terapeutas comunitárias para a continuidade do projeto. E aqueles que necessitarem de um acompanhamento mais especializado serão encaminhados com relatório da equipe para a rede de reabilitação mental da Cidade através dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que contam com médico, psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, equipe de enfermagem. São quatro na cidade: dois Centros de Atenção Psicossocial (Caps II) Boqueirão e Mirim, um Caps Ãlcool e Drogas (Caps AD) 24 horas e outro Infantil (Caps i).
Foto: Richard Aldrim/PMPG