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Região / Cotidiano

No Instituto Procomum, o comum é se unir pelo bem

Por Leonardo Francisco e Ted Sartori
Da Revista Mais Santos

O nome do Instituto Procomum já deixa bem claro o objetivo da organização a partir da Baixada Santista: trabalhar pelo bem comum, ou seja, para fortalecer a vida comunitária e o protagonismo dos cidadãos na sociedade.

“Trabalhamos para difundir essa ideia, por meio de ações práticas, de reflexão crítica e do desenvolvimento de metodologias de fomento à criatividade e à produção cultural, científica e de conhecimento”, afirma Rodrigo Savazoni, diretor executivo do Instituto.

Organização sem fins lucrativos, o Instituto Procomum iniciou as atividades há cinco anos, em 2017, mas começou a ser gestado antes, em 2015, com a realização do projeto Tecnologias e Alternativas. O foco era repensar o papel das organizações da cultura livre em um contexto de transformações políticas e culturais importantes no País, no mundo e no ecossistema da internet.

“Fundamos o Instituto para fortalecer o tecido social por intermédio de diferentes tecnologias, aliando o uso das avançadas e modernas ferramentas de informação e comunicação com os conhecimentos ancestrais e a criatividade das comunidades locais”, explica Rodrigo.

Em 2016, a entidade realizou em Santos o LAB.IRINTO – Encontro Internacional de Cultura Livre e Inovação Cidadã. Tratou-se de um processo de debates, trocas de experiência e articulação envolvendo criadores da Baixada Santista, de outras regiões do Brasil e do mundo. O evento disparou o processo de construção do LAB Procomum, laboratório cidadão com sede no Centro de Santos e que está sendo reaberto agora, depois da pandemia.

“É um verdadeiro parque de diversões para os criadores, com diferentes recursos. Tem biblioteca, hackerspace, makerspace, rádio, salas colaborativas de trabalho, galpões para usos múltiplos, uma horta, e por aí vai”, descreve o diretor executivo. “Por prover recursos monetários e não monetários aos criadores de impacto social, entendemos a nossa organização como uma plataforma cidadã. A gente age para impulsionar as iniciativas coletivas, sempre valorizando a construção de conhecimento pela experiência”, emenda.

Os principais projetos do Instituto Procomum, lembra Rodrigo Savazoni, aliam educação e inovação. Embora a entidade acredite na interdisciplinaridade, ou seja, que a vida vivida não cabe em caixinhas, ela tem dado prioridade às iniciativas de arte e cultura, que estimulem alternativas econômicas (como cooperativas e modelos de negócio aberto), que fortaleçam o espaço cívico diverso, levando em consideração aspectos de raça, gênero e classe, com prioridade absoluta para as populações sub representadas, e enfrentamento da crise climática.

“O grande problema do Brasil é a desigualdade e a gente tem buscado desenvolver e disseminar conhecimentos livres e metodologias abertas que sirvam para que juntos, cada uma de nós, possamos enfrentar esse enorme problema”, afirma o diretor executivo. “A gente sabe que vive num mundo que valoriza a competição, mas nós queremos mostrar a força da colaboração. Que as pessoas, organizadas em comunidades que se governam ou em redes cooperativas, conseguem perseguir o bem viver. E, por fim, a gente sabe da importância que o Estado tem para garantir os direitos dos cidadãos, mas queremos ver tanto esse Estado quanto o mercado submetidos às necessidades das pessoas, levando em consideração a importância da ação coletiva comunitária. Não existe comum sem que a gente cuide de si mesmo, uns dos outros e do planeta”, emenda.

Abrangência e outros projetos

O Instituto Procomum está nas nove cidades da Baixada Santista. “A gente caminha das pontas para o centro. Ou seja, temos tecido relações pelas bordas. Recentemente, organizamos as informações e percebemos isso”, afirma Rodrigo.

O motivo da percepção do diretor executivo é simples: no Guarujá, está em Vicente de Carvalho; em Cubatão, na Fabril; em São Vicente, na Vila Margarida; em Santos, na Ocupação Bela Vista e assim por diante.

“Quando vamos para o centro, para as regiões mais ricas, queremos mostrar que a Baixada é muito mais complexa e interessante do que as minorias projetam. As contradições estão aí. Enquanto Santos recebe o título de uma das melhores cidades para se viver do Brasil, em pesquisas que levam em conta indicadores de desenvolvimento, também é uma das cidades mais segregadas racialmente do país, a terceira para ser mais exata”, exemplifica.

Para evidenciar o protagonismo das negras e negros na construção da cidade, tanto historicamente quanto nos tempos atuais, o Instituto Procomum criou um projeto chamado LAB Negritudes – Memórias, Narrativas e Tecnologias Negras na Baixada Santista.

“Com ele, estamos realizando uma pesquisa-ação que busca evidenciar o protagonismo – ancestral e contemporâneo – da população negra nas nove cidades da Baixada Santista por ações de arte, cultura, ciência e educação. Buscamos afirmar a importância da população negra da Região para a formação do Brasil como nação, por meio de um processo de trabalho criativo que recusa o apagamento sistemático desses protagonistas, suas vidas e realizações”, explica Rodrigo. “O plano é gerar conexões entre esses territórios e não mais cisão e afastamento, como é a regra”, emenda.

Outra iniciativa importante é a Colaboradora Artes e Comunidades, escola aberta e colaborativa do Instituto Procomum, que congrega uma escola de formação livre a um ambiente criativo e coletivo de trabalho e experimentação. A ênfase é nas mulheres, na população afrodescendente, LGTBQI+, indígenas e pessoas com deficiência- PcD, favorecendo com que as diferenças convivam e colaborem.

“Com ela propiciamos aos artistas expandir as narrativas, estéticas e possibilidades da arte, colaboração e sua relação com o território da Baixada Santista. Estamos agora entrando na quarta temporada da ‘Colaboradora – Artes e Comunidades’, onde realizamos chamada pública para seleção de 15 artistas”, afirma o diretor executivo.

Os artistas selecionados receberão apoio financeiro de R$ 3 mil para o desenvolvimento de um projeto artístico que deverá ser realizado no território da Bacia do Mercado, em Santos. Em 16 de maio, a entidade anunciou os selecionados para a quarta temporada do projeto, entre 112 inscrições recebidas. “A partir daí iniciamos um percurso formativo de seis meses de atividades (de maio a novembro) que passa pelo desenvolvimento artístico; produção cultural; dimensão territorial; e processos colaborativos”, completa Rodrigo.

Público e perfil

Em cinco anos de atuação, o Instituto Procomum calcula que já recebeu cerca de 2 mil pessoas entre participantes de nossos projetos, público visitante e em ações organizadas pela entidade ou realizadas em parcerias, promovendo aproximadamente 200 iniciativas comunitárias na Baixada Santista. A maioria dos frequentadores é de pessoas adultas e autônomas. Ainda não existem ações voltadas às crianças e já foram feitos alguns experimentos direcionados à Terceira Idade.

“O perfil que a gente percebe que alcança: pessoas comprometidas com a transformação social. Sempre priorizamos quem vem de baixo, ou seja, as populações historicamente sub representadas. Por conta dessa característica de sermos uma plataforma impulsionadora de sonhos, acaba que estamos cercados de gente sonhadora, criativa e que quer promover transformação social efetiva”, define o diretor executivo. Afinal, sonhar também pode ser um ato em comum.

Foto: Divulgação