Definitivamente, ‘você é o que você come’, mas um novo estudo vai um pouco além disso e diz que você sente na pele muita coisa por conta da sua alimentação. A pesquisa científica Skin and Diet: An Update on the Role of Dietary Change as a Treatment Strategy for Skin Disease, publicada em janeiro no Skin Therapy Letter, afirma que a mudança na dieta pode servir como um componente importante na terapia para certas condições da pele, incluindo acne, rosácea, envelhecimento, psoríase e dermatite. “Certos nutrientes, alimentos ou padrões alimentares podem agir como ‘gatilhos’ de doenças, enquanto outros podem ser benéficos. Por exemplo, um padrão alimentar que enfatize o consumo de alimentos integrais em vez de alimentos altamente processados pode ajudar no tratamento de certas condições da pele, principalmente àquelas ligadas à inflamação”, afirma a dermatologista Dra Valéria Marcondes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da American Academy of Dermatology (AAD).
De acordo com a médica, esse artigo foi uma importante revisão para esclarecer as relações entre dieta e pele, uma vez que uma simples pesquisa na internet já revela que há muita desinformação. “Um exemplo é o chocolate. Muitas vezes ligado ao aparecimento de acne, esse produto só é maléfico se tiver alta quantidade de carboidratos e gorduras e menor concentração de cacau. De forma que não é o cacau o responsável por piorar inflamações de pele e, sim, a gordura e o carboidrato”, exemplifica. Na sequência, a médica destaca os principais pontos do estudo:
Acne
Alimentos perigosos: A evidência mais forte até o momento sobre os gatilhos dietéticos para acne é para dietas de alta carga glicêmica. “Em um estudo, pacientes com acne demonstraram melhora significativa após 12 semanas de uma dieta de baixa carga glicêmica. Estudos posteriores documentaram que esse padrão alimentar resultou em menor biodisponibilidade de andrógenos e alteração na produção de sebo da pele”, diz a médica. O uso de suplementos como Whey Protein já foi indicado em estudos como influenciador importante no desenvolvimento de acne resistente.
A dieta ideal: As recomendações alimentares para pacientes com acne incluem alimentos ou suplementos contendo probióticos, ácidos graxos ômega-3, zinco, antioxidantes, fibras e vitamina A. “Alimentos com zinco tem papel importante para o controle da produção de sebo, de acordo com estudos”, afirma a médica.
Envelhecimento da Pele
Alimentos perigosos: Para os pacientes que apresentam fotoenvelhecimento, os fatores do estilo de vida que afetam esse processo são um aspecto importante do tratamento. “Embora o tabagismo e a proteção solar sejam comumente indicados como maléficos a esse tipo de paciente, os fatores dietéticos também devem ser considerados”, diz a Dra Valéria. Uma das grandes preocupações é o açúcar e o carboidrato: “Níveis mais altos de açúcar no sangue podem resultar na produção de produtos finais de glicação avançada (conhecidos como AGEs), que agem no endurecimento das fibras de colágeno, o que resulta em perda de elasticidade e flacidez. O consumo de AGEs pré-formados, criados durante certos processos de cozimento, como a fritura, também pode ser prejudicial”, afirma a médica.
A dieta ideal: Muitos estudos em laboratório e em animais descobriram que vários antioxidantes encontrados em alimentos (frutas, vegetais, folhas de chá e sementes) atuam para limitar os efeitos cutâneos nocivos da radiação ultravioleta (UV). “Em um estudo, indivíduos que consumiram pasta de tomate diariamente por 12 semanas apresentaram menos eritema induzido por UV, bem como níveis mais baixos de metaloproteinases (enzimas que degradam colágeno)”, diz a médica. Outras pesquisas em humanos sugerem que uma dieta rica em fitonutrientes pode limitar o fotodano. “Um estudo relatou que a maior ingestão de vegetais, legumes e azeite parece proteger contra danos do fotoenvelhecimento. Em outra pesquisa com mais de 4.000 mulheres, concluiu-se que as vitaminas A e C são importantes para uma pele ser menos envelhecida”.
Dermatite Atópica
Alimentos perigosos: As alergias alimentares estão altamente correlacionadas com a dermatite atópica e os seis alimentos mais comuns a funcionar como gatilhos são: leite, ovos, trigo, soja, frutos do mar ou nozes.
A dieta ideal: Os simbióticos, que são probióticos em combinação com prebióticos, mostraram-se promissores no tratamento da dermatite atópica. “Probióticos são bactérias vivas, similares àquelas encontradas naturalmente no corpo humano, e que podem ser benéficas para a saúde. Os prebióticos, como certas fibras vegetais, são definidos como carboidratos não digeríveis que estimulam o crescimento de bactérias probióticas no intestino”, explica.
Psoríase
Alimentos perigosos: A importância da dieta deve ser enfatizada para todos os pacientes com psoríase, principalmente devido ao maior risco de doenças relacionadas, incluindo diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, que podem ser evitadas ou melhoradas por abordagens dietéticas. “É bem reconhecido que o tabagismo e o aumento da ingestão de álcool estão associados à psoríase. Mas alimentos contendo glúten podem atuar como um gatilho em alguns pacientes, e testes para anticorpos celíacos são necessários para aqueles que relatam sintomas gastrointestinais de acordo com o estudo”, explica.
A dieta ideal: Em uma revisão sistemática da literatura, o aumento da gravidade da psoríase pareceu correlacionar-se com um maior índice de massa corporal (IMC), e acredita-se que a obesidade provavelmente predisponha à psoríase e vice-versa. De acordo com o artigo, embora as recomendações dietéticas específicas não sejam claras, um estudo observacional encontrou uma associação benéfica de melhora com pacientes que seguiram a dieta mediterrânea. “Em termos de suplementos nutricionais, vários estudos apostam no óleo de peixe como o mais promissor e a vitamina D oral demonstrando alguma promessa em estudos abertos. Houve evidência limitada para o benefício da suplementação de vitamina B12 e selênio”, afirma a médica.
Rosácea
Alimentos perigosos: Pacientes com rosácea devem evitar os desencadeantes alimentares e nesse grupo entram várias especiarias, molho picante, chocolate ao leite e branco, frutas cítricas, álcool (incluindo vinho e bebidas destiladas), além de bebidas quentes como café e chá. “Não significa que o paciente com o paciente com rosácea deve deixar de ingerir todas essas substâncias, mas ele deve ficar de olho, juntamente com o médico, se esses alimentos não influenciam negativamente na vermelhidão da pele e inflamações”, afirma a médica.
A dieta ideal: A pesquisa indica o possível papel de uma conexão intestinal na rosácea, sugerindo um aumento do consumo de fibras e da ingestão de água ou o uso de simbióticos por via oral.
Fonte: Dra. Valéria Marcondes
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