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Edição Semanal

Didi Duarte, a voz das palafitas

Por Lucas Leite

Edmílson Duarte, ou simplesmente Didi, é sinônimo de luta entre os moradores do bairro São Manoel, em Santos. Ele é presidente da Sociedade de Melhoramentos do São Manoel há 12 anos e está sempre batalhando por melhorias para os moradores do bairro, conhecido por ser o local que abriga a maior favela sobre palafitas da América Latina.

Sem saneamento básico e em situações que preocupam a saúde dos moradores, a situação é preocupante. De acordo com Didi, o poder público pouco faz para a região avançar e dar algum suporte aos moradores.

Didi também criou uma página no Facebook, “Vidas Sobre Vigas”, onde retrata, através de fotos, o dia-a-dia do bairro, em uma tentativa de chamar a atenção, não apenas do poder público, como da mídia e da população, para a calamitosa situação em que seus moradores se encontram.

Em uma rápida entrevista à equipe da Revista Mais Santos, Didi revelou que já houveram mortes no local e falou um pouco sobre quais atitudes o poder público poderia tomar em relação ao São Manoel.

Confira abaixo a entrevista completa:

Como surgiu a ideia de criar a página Vida Sobre Vigas?

A ideia de criar a pagina foi a maneira que encontrei de estar divulgando a situação das famílias que moram na Parte B de Santos, já que a cidade possui o maior conjunto de Palafitas da América Latina e só mostra as suas riquezas como praia e etc. Temos famílias aqui que passam por dificuldades sérias, sem saneamento básico, sem segurança, sem conseguir pagar um aluguel e isso tudo piorou muito. Depois da crise, as palafitas aumentaram.

Qual é a importância desse trabalho?

A importância do trabalho é mostrar a realidade das famílias que muitas pessoas criticam que são invasores. Mas ninguém está aqui porque quer, não! Não tem condições de morar em outro lugar. Aqui, a luta é constante e você sai para trabalhar e não sabe se quando voltar sua casa estará lá ainda, com o medo de incêndio e risco de cair.

Você também é presidente da Sociedade de Melhoramentos do São Manoel, qual é a responsabilidade de tal cargo?

Sim, sou presidente da Sociedade há 12 anos nosso trabalho é passar ao poder público, os pedidos dos moradores, mas nem sempre somos atendidos. Ser presidente é um trabalho voluntário e de muita responsabilidade para tentar trazer o melhor para cada bairro.

Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos moradores?

As piores dificuldades são a falta de higiene e segurança. As crianças correm descalças pelas pontes e já tivemos casos de mortes aqui, que a criança caiu na maré alta e só acharam morta. O risco de incêndio é constante, já que o poder público não permite a ligação de água e luz e tudo é feito de maneira clandestina. Muitas pessoas querem pagar para ter um endereço, mais não permitem fazer a ligação. As madeiras apodrecem rápido e a qualquer hora o barraco pode cair.  O acúmulo de resíduos jogados no rio vem parar aqui na margem do bairro São Manoel pela corrente marítima e aí, quando seca a maré, os plásticos ficam e o risco de dengue aumenta. Já tivemos casos de morte por dengue, fora que tem muitos mosquitos, ratos e todos os tipos de bichos.

A Prefeitura dá algum auxílio para a região?

A Prefeitura não pode ajudar, porque a promotoria de justiça proíbe, mas também não existe fiscalização, para que as moradias não cresçam, e nenhum tipo de congelamento para que estas pessoas possam saber que irão para algum lugar um dia.

O que você acredita que poderia ser feito para melhorar a situação do São Manoel?

Para melhorar a situação, o ideal seria fazer um congelamento de moradias e colocar moradores da comunidade para fiscalizar e dar o básico para estas famílias até que as mesmas saiam do local, como água, luz e saneamento básico e ajuda nas reformas das passarelas.

Como funciona o apoio da Fundação Settaport?

A fundação Settaport presta um grande auxílio ao bairro, porque promove atividades gratuitas para as crianças, aonde podem praticar esporte sem custo e ao mesmo tempo  interagirem entre todas as classes e conhecer lugares que para muitos seria difícil.

Recentemente, a Record divulgou uma matéria sobre a situação. Você acredita que a mídia dá a atenção necessária para um assunto tão delicado?

A mídia parece ser articulada, porque dificilmente faz materiais sobre a situação das famílias a Record veio através da matéria que foi feita pela UOL primeiro. A minha ideia é sempre estar expondo a situação para que o poder público tome alguma atitude no local. Acabar com as palafitas seria bom para a cidade e para moradores da situação. Quem já foi na praia e nunca achou um sapato, chinelo e outras coisas? Muitas destas coisas saem das moradias irregulares e vão parar na praia. Então, é uma questão de saúde, meio ambiente e turismo. Não entendo porque o poder público não fiscaliza e deixa a Bangu. Cada dia mais, as pessoas vão se apertando e não tem condições de pagar aluguel, aí acabam vindo morar em Palafitas. Falta mais habitação. A cidade está tendo muitas obras de habitação, mas ainda é pouco pelo tempo parado. Então, para que todos tenham direito de morar em um lugar melhor, falta fiscalização e moradias.



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