Por Felipe dos SantosO verde e rosa, além do dourado são as cores oficiais – em homenagem à Estação Primeira de Mangueira. Seu sÃmbolo, uma águia – referência a outra gigante carioca admirada pelos fundadores: a Portela.
No dia 25 setembro de 1976, uma comitiva composta por baluartes da Mangueira desembarcava no Salão Nobre da Associação Atlética Portuguesa, em Santos.
O evento era para batizar e abrir alas para a sua mais nova afilhada. Delegado, Dona Zica e Bira da Mangueira foram saudados com o primeiro dos muitos sambas que ecoariam pelo Marapé, de autoria de Marco José de Souza cantavam:
“Parabéns a você, parabéns, ô ô
Parabéns a você, a Mangueira chego
Abram alas minha gente, quem faltava chegou
É a rainha do samba, é a Mangueira sim senhor…
Verde e rosa é tradição, verde e rosa é Mangueira
Verde e rosa é união e União não é brincadeira…â€Assim a primeira melodia foi entoada pelos puxadores de samba que iam no embalo das batidas iniciais dos tamborins, das caixas, dos repiniques, dos surdos e do canto da cuÃca.
Então dava-se inÃcio a gigante do carnaval santista: União Imperial. Em 1977, foi o primeiro desfile da agremiação. O que se sabe é que os primeiros ensaios aconteciam nas esquinas das ruas Carvalho de Mendonça e Alberto da Veiga.
Logo depois, os encontros seguiram, alternadamente, nos bairros do Marapé e Vila Mathias, em Santos.
De lá para cá, muita coisa aconteceu! São 43 anos de vida e, nada menos que, 10 (dez) tÃtulos no Grupo Especial: 1985, 1986, 1987, 1988, 1989, 1993, 1994, 1997, 2018 e 2019.
Contudo, os dois últimos tÃtulos ratificam a força de uma escola que, além de pintar o carnaval da Região de verde e rosa, consegue conversar em forma de música com o público no sambódromo.
Não são simples apresentações dessa imponente agremiação, os seus desfiles têm sido uma mistura de alegria e descontração, porém, sem perder o senso crÃtico e nem a responsabilidade de formar opinião.
Para o carnavalesco, Renan Ribeiro, a função principal da União Imperial é passar informações, ensinar as pessoas e deixar um legado para público.
Em entrevista, exclusiva, para a Revista MAIS SANTOS, ele falou sobre a construção dessa história.
“Então, aproveitamos o clima de euforia e descontração pela conquista do tÃtulo de 2018, que cantamos Nkisi Samba Kalunga, para desenvolver um tema leve, mas não menos crÃticoâ€, disse.
Renan declara que pela história rica do Circo no Brasil, ele achou interessante apresentar a proposta para que esse ano a escola viesse apresentando esse grandioso contexto.
“Acho que conseguimos canalizar a energia na avenida, o público em geral embarcou em nossa viagem. Foi muito bacanaâ€, afirma.
Segundo Renan, o que o ajudou, no desenvolvimento desse assunto, foi o fato dele ter muitas ideias a respeito de coisas infantis e questões mais leves e ‘brincalhonas’.
A União Imperial desfilou na passarela do samba com 16 alas, três carros alegóricos e diversos elementos cênicos e coreográficos, por aproximadamente 1,4 mil figurantes. O público vibrava com balanço impecável da bateria Balanço Verde e Rosa, sem falar dos saltimbancos, patinadoras, bonecos e, até, um atirador de facas que foi um dos “truques†apresentados na avenida. Sobre o olhar da águia mecânica (controlada por membros da agremiação) que sobrevoava o sambódromo, a escola contou como o circo chegou no Brasil, como se desenvolveu, quem foram os artistas que ajudaram a escrever esse enredo e quais foram os grandes picadeiros internacionais que brilharam nas terras brasileiras.
Algumas celebridades, como Sheila Carvalho (ex-dançarina do grupo É o Tchan) e o ator Marcos Frota, deram um toque especial para apresentação do enredo.
“No último carro, vestimos um circo de verde, amarelo e branco. A ideia foi retratar com indignação a maneira em que é conduzido a polÃtica em nosso paÃs. Muitos costumam dizer que é lá que acontece toda a ‘palhaçada’. Porém, não podemos associar nada que pertence ao circo com a bandalheira que ocorre no Congresso Nacionalâ€, diz.
Para o carnavalesco, o circo é um lugar que traz alegria e a polÃtica só tem proporcionado uma verdadeira galhofa (que é a mesma coisa de que zombar ou brincar ruidosamente).
“Depois da conquista e a grande festa, vamos descansar um pouco e daqui alguns meses retomamos o trabalho para tentar o tricampeonatoâ€, ressalta.A alma de uma escola – Todos os membros têm suas devidas importâncias para o funcionamento perfeito de um corpo. A questão é que há quem diga que a bateria é o coração de uma escola de samba, pode até ser!
O fato que tudo começa na mente de um carnavalesco, então podemos dizer que esse membro é a alma de uma agremiação. Renan Ribeiro é alma da União Imperial. Com 31 anos de idade, esse ano ele completou o seu terceiro ano com essa função.
“No primeiro ano foi bem difÃcil. A escola não estava vivendo um momento tranquilo e com poucos recursos eu só consegui um 7° lugarâ€, relembra.
Contudo, os dois anos seguidos, dele, foram com os tÃtulos de campeão. “É uma alegria e satisfação enorme. Sei da responsabilidade, pois, a cobrança será maior com esses triunfos. Só que eu confio na equipe que tenho para trabalhar. O pessoal aqui é unido e todos se entregam ao máximo pela nossa escolaâ€, afirma.
Mesmo sendo jovem, Renan Ribeiro tem uma vasta experiência no carnaval. Ele já trabalhou em diversas funções nas seguintes agremiações: Nenê de Vila Matilde, Gaviões da Fiel, Tom Maior, Dragões da Real e Acadêmicos do Tucuruvi, em São Paulo.
“Eu já fiz das mais várias funções nessas escolas, mas oficialmente como carnavalesco, a minha primeira vez foi, em 2017, na União Imperialâ€, comenta. O que é um carnavalesco – de acordo com o levantamento realizado em busca de uma definição sobre o que é ser um carnavalesco, esse profissional não precisa saber desenhar ou ser aderecista, pintor, estilista ou escultor, mas ele precisa de ter a visão geral de todo o processo de confecção de um carnaval.
Um carnavalesco não precisa ser letrado e formado nisso ou naquilo, mas ele precisa para que seu trabalho tenha êxito de uma visão cultural abrangente. Não basta apenas uma pesquisa no Google da vida e nas enciclopédias escolares para se desenvolver um carnaval. É preciso bem mais que isso. É necessário muito embasamento cultural, que sabemos nem sempre se aprende nas salas de aula. Além disso, é importante gostar muito de carnaval.