Atire a primeira pedra no cronista quem nunca esteve com o pescoço dolorido diante de um telão com uma música lenta de dar sono, enquanto uma série de fotos antigas passa por ali, uma senhorinha chora e o tiozinho diz que pegou no colo o aniversariante, a noiva ou quem estiver recebendo alguma homenagem em uma solenidade chata qualquer.
Minha timidez seletiva – que não me impede de falar em público quando necessário, mas me faz tremer na hora de pedir algo em um balcão, ver minha própria imagem ou ouvir minha voz em áudios de todo o tipo – me traz um pânico gigantesco diante desses eventos.
Em minha lista de medos incontroláveis, capitaneada pelos ratos, altura e grande concentração de água, os telões com minhas fotos antigas se juntam às noites do caldo verde, virar um “tiozão do zap”, atender ligações da LBV pedindo doações, ir ao portão de casa diante do chamado de um testemunha de Jeová num domingo de manhã e me deparar com os cada vez mais crescentes “mêsversários”.
Nem mesmo as mães chamando as visitas para ver os álbuns cheirando a mofo de nossos primeiros meses de vida causam tanto constrangimento quanto esse momento destinado a inflar o ego de quem se propôs a organizar aquela festa. E se não escorrerem lágrimas, meu amigo, o trabalho terá sido em vão.
É mais um item daquela interminável lista de invenções das quais nos perguntamos quem deve ter sido o inventor, ou pior, quem gosta disso? Nela estão os discursos intermináveis, bingos e as DRs – graças a uma trajetória de vida torta e sempre incerta, nunca passei pelo último.
Confesso que meus álbuns no Facebook e Instagram são seletivos e lá só incluo minhas melhores fotografias, por mais incrível que isso possa parecer.
Se quiserem ver uma criança ainda com cabelos seminua, com um bolo temático do pica-pau no aniversário de um ano, andando com botas ortopédicas na tentativa bem sucedida de corrigir um defeito que tornavam as pernas tortas, na igreja em minha primeira comunhão, com uma bola de futebol nos braços e a torre Eiffel de fundo às vésperas da Copa do Mundo de 98 na França ou em qualquer pose padrão da infância, venha à minha casa que abro a última gaveta onde estão os velhos álbuns guardados pelos meus pais desde meu nascimento.
Mas nunca me façam vídeos ou slides com essas fotos antigas ao som de Kenny G. Assim preservamos a amizade e o bom convívio.