Essa experiência mal sucedida que é a humanidade é cercada de prepotência e arrogância. Não é à toa que, por se dar uma importância maior que a devida, sempre arruma justificativa para toda destruição, nossa única vocação verdadeira e universal.
Tal loucura nos faz pensar sermos a espécie dominante nesse círculo gigantesco flutuando entre uma de bilhões de galáxias. Há até quem siga, sem pensar duas vezes nas consequências, livros supostamente sagrados nos quais é dito por algum ser superior que é nossa espécie falha quem deva reger esse mundo louco. Assim, criamos sentidos e explicações onde sequer deveríamos procurá-los. Viver sem responder a perguntas talvez fosse a melhor explicação possível para a doce ilusão que é nossa passagem efêmera por aqui.
E essa busca acaba de uma hora para outra, por culpa do Destino, Acaso ou outro nome preferível. Nem sempre existe aviso prévio, o que nos choca ainda mais quando lembramos nossa caminhada solitária obedecendo à lei da gravidade sem poder de contestação.
Por isso invejo os elefantes, mais sábios até do que aqueles animais que o homem – esse ser sempre incompleto e imperfeito – nomeou como os reis da floresta.
Queria poder sentir a velhice dos últimos dias chegando como os paquidermes para ter tempo de me despedir das almas queridas por mim, escrever uma carta pessoal a cada um e partir. Jantaria os melhores pratos sem preocupar-me com a ressaca física e moral no dia seguinte. Pediria desculpas e perdoaria, falaria tudo o que estivesse engasgado e me conformaria com os livros que não teria tempo de ler, as séries que não completaria, os filmes que não assistiria e os amores que não seguiria adiante.
Caminharia tranquilamente para a morada final, sem que fossem necessárias preocupações com testamentos e funerárias, que não existiriam. Lá, encontraria outros na mesma condição que eu, prestes a desencarnar e descobrir sem muita expectativa o que há do lado de lá, se outro lado houver.
Pena que até isso o ser humano é capaz de destruir, com o marfim e seu comércio antecipando o ciclo natural de morte para esses animais gigantescos e simpáticos.
Por isso invejo os elefantes.