Por Alexandre Piqui

Os familiares de pessoas diagnosticadas com transtorno do espectro do autismo foram surpreendidos com uma notícia positiva nesta sexta-feira (19). O Diário Oficial da União publicou sanção do presidente Jair Bolsonaro que trata de incluir informações específicas sobre autistas, nos censos demográficos, realizados a partir deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O próprio presidente publicou numa rede social que atendeu “à necessidade da comunidade autista no Brasil reconhecendo a importância do tema�, abordando no Twitter. A autora da PL foi à deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania-SC).

A expectativa inicial era de veto ao projeto de lei para incluir os eventuais questionamentos sobre os autistas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e não no censo. Os dois levantamentos são organizados pelo IBGE, mas o censo é realizado a cada dez anos e apura a totalidade dos dados demográficos.

Ana Lúcia Leite Felix Jorge preside o Grupo Acolhe Autismo de Santos (GAA), para ela a aprovação da lei foi motivo de muita alegria. “A inclusão dos dados no censo, pela primeira vez, vai nos dar um número oficial de quantos autistas existem no país e onde eles se encontram. Há décadas, muitos ativistas da causa autista veem construindo este caminho. Na verdade, os ativistas são os próprios pais lutando para essa inclusão dos dados no censo�, explica.

Para ela, a inclusão dessas informações deverá mostrar uma demanda, até então, invisível aos olhos de muitos, inclusive dos governantes. “Isso vai abrir caminhos em direção as necessárias políticas públicas. Porque elas são pautadas em dados oficiais e o principal no Brasil é o censo�, esclarece.

Tentativa de Censo em Santos

O que se torna lei em todo país já havia sido solicitado à Câmara dos Vereadores de Santos. “Houve uma tentativa frustrada da nossa parte. Os vereadores vetaram um requerimento pedindo um censo municipal. Isso para que pudéssemos ter uma realidade mais próxima do número de autistas em Santos�, explica Ana Lúcia.

União de forças

O apresentador Marcos Mion, que tem um filho diagnosticado com autismo, usou as redes sociais pedindo a aprovação do projeto.

– Aprova a lei, presidente. Única frase que fiz ele [Romeo] decorar foi “aprova essa lei presidente�, o resto foi tudo da cabeça dele! Se um autista que não consegue ter o entendimento de tudo, entende isso. Seu coração, Jair Bolsonaro, tem que ser tocado! Toda comunidade autista conta com você, presidente – escreveu Mion.

Essa vitória é apenas um passo, comenta a presidente do GAA. Mas resulta em um momento importante da causa autista; a união dos pais de todo o Brasil. “Isso demonstra que é necessário o envolvimento de todos e precisa acontecer mais vezes. O autismo é uma causa apartidária; é de todos. Pelas estimativas, em 2025, é bem provável que um a cada dois nascimentos venha no espectro autista. Em todas as famílias teremos um autista. Então, todo mundo precisa conhecer essa condição. Com a informação não será difícil lutar por essa pessoa� afirma.

Ana Lúcia explica que há cinco anos o grupo busca mostrar às autoridades a importância dessa demanda em Santos. “Quando a gente criou o grupo Acolhe Autismo começamos a mobilizar e dar coragem para as pessoas aparecerem. Porém, os políticos precisavam de números�, ressalta

“O autismo não é doença, e sim, uma condição, assim como a síndrome de Down, por exemplo. Quanto mais cedo se identificar e der início ao tratamento, os prognósticos serão melhores. Além disso, poderemos mapear faixas etárias, graus e níveis de comprometimento no espectro. São dados extremamente fundamentais para que se possa esboçar políticas públicas coesas e coerentes�, conclui.